Psicomotricidade e Aprendizagem

É comum quando se fala em psicomotricidade, se lembrar das visões de mundo ou paradigmas mecanicista e sistêmico.  Um diz que corpo e mente são duas entidades separadas e ou outro diz que o Ser Humano é uma Unidade ou Sistema onde mente-corpo, dentre outras coisas, faz parte desta totalidade.

Realmente são duas visões importantes a serem realçadas, pois dependendo da visão que se tenha, esta se reflete na compreensão e, conseqüentemente, nas ações que desempenhamos no mundo e, mais especificamente, com os nossos alunos!

Se entendermos que a aprendizagem é um processo que se dá exclusivamente na mente ou na psique, então não fará sentido pensar e incluir o corpo neste processo de ensino-aprendizagem. (Faça um teste com você mesmo. Quando você pensa em aprendizagem, o que você inclui neste processo?)

A visão de totalidade conhecida também como sistêmica, holística, ecológica ou complexa, amplia a visão mecanicista, passando a compreender o processo de ensino-aprendizagem como um todo. Isso significa que o Ser Humano se expressa e absorve o conhecimento por todas as vias que tem disponível, conscientes e inconscientes, as que conhecemos e as que não conhecemos, tendo no corpo-ego um importante mediador entre os mundos interno e externo.

O movimento corporal, nesta perspectiva, é um importante meio de expressão e intervenção, mas não é o único. Devemos ter cuidado para que, ao tentar relacionar a aprendizagem com o movimento corporal, embora possamos até a ampliar um pouco a visão mecanicista, ainda manter esta visão, que está muito fortemente inculcada em nossas mentes.

Psicomotricidade Positiva

Psicomotricidade Positiva

Então é comum, quando se quer relacionar psicomotricidade ao aprendizado, se falar em lateralidade, dominância lateral, imagem  e esquema corporal, coordenação viso-motora, óculo-manual, grossa, fina, orientação espaço-temporal, etc…

Desta maneira pode ser entendido que as aptidões citadas são os únicos “conteúdos” a serem trabalhados e pertinentes à psicomotricidade, justificando à falta ou deficiência em qualquer uma dessas aptidões às dificuldades de aprendizagem.

Se chegarmos a essa conclusão, podemos cair na armadilha de entender que a causa da dificuldade da aprendizagem seria, por exemplo, a deficiência na lateralidade, concluindo então, que é por isso que o aluno não consegue escrever… Então passarmos a trabalhar para desenvolver a lateralidade como forma de “corrigir” a causa, e conseqüentemente, solucionar o efeito.

Portanto, esse pensamento de causalidade é um típico pensamento mecanicista, que relaciona um efeito a uma causa.

No pensamento de totalidade, não existe uma causa que produza um efeito, mas sim, um contexto que se expressa de determinada maneira, naquele momento e naquelas condições.

Poderíamos dizer de maneira didática, que existem infinitas causas atuando ao mesmo tempo e de maneira muito dinâmica (ou seja, estão mudando o tempo todo), que se expressam de uma maneira tal que, conseguimos perceber em parte, e somente em parte, os seus efeitos.

A abordagem da professora e do professor deve incluir muita sensibilidade, discernimento e criatividade para propor soluções, levando-se em conta o Ser Humano em sua totalidade, este aluno no seu contexto singular, social e planetário e procurar no movimento corporal identificar tanto sua expressão simbólica, bem como uma importante estratégia de intervenção, nunca se esquecendo que numa relação professor-aluno temos duas totalidades em interação.

Concluindo, a relação da psicomotricidade com a aprendizagem refere-se por um lado, na expressão corporal simbólica deste aluno, portanto sob importante forma de comunicação e compreensão deste indivíduo, bem como, uma importante estratégia de intervenção, visto que, por mais limitada que uma pessoa possa estar sempre haverá algum movimento que ele poderá executar.

Motivos da dificuldade de aprendizagem e o movimento corporal

Em primeiro lugar devemos ter em mente que cada pessoa que habita nosso planeta, não está exatamente no mesmo momento de sua individuação, ou se preferir, de sua maturidade espiritual.

Não podemos, então, comparar uma pessoa que tenha dificuldade de aprender certas coisas com outra que esteja em momento diferente. Isso seria o mesmo que comparar uma criança da educação infantil com um adulto doutor em matemática, por exemplo, e concluir que a criança tem dificuldade de aprendizagem em matemática por não conseguir aprender a fazer cálculos complexos como “Derivada” e “Integral”.

Então uma primeira orientação seria a de identificar em qual momento a pessoa se encontra, sem a preocupação em compará-las com outras, pois se fizéssemos isso, certamente iríamos comparar “laranja com banana”, ou seja, comparar duas coisas diferentes como se fossem iguais.

Em segundo lugar, devemos ter em mente que as pessoas possuem tipos psicológicos ou temperamentos diferentes. Isso implica que cada pessoa percebe o mundo a partir de perspectivas diferentes conforme as diferenças específicas de seu tipo psicológico. É um erro julgar os outros a partir do nosso próprio tipo psicológico, ou seja, achar que os outros percebem o mundo da mesma perspectiva que a gente.

Jung nos fala, com intuito de compreender o outro e não de julgá-lo, ou seja, ele nos dá uma ferramenta teórica que deve ser usada como auxílio e com cuidado, quando nos diz que existem duas grandes perspectivas psicológicas de perceber o mundo, uma extrovertida e outra introvertida, e ainda, que essas perspectivas podem ser mais especificamente detalhadas quando combinadas com as funções psíquicas primárias: pensamento, sensação, sentimento e intuição.

Pode uma professora ou professor, ou ainda outro profissional, considerar um aluno com dificuldade de aprendizagem só porque o seu método de ensino não está adequado ao tipo psicológico de seu aluno. Certamente esta avaliação estará equivocada.

Em terceiro lugar, devemos levar em conta o contexto em que a pessoa está inserida. Como o Ser Humano é um sistema semi-aberto, isso significa que ele influencia e é influenciado pelo mundo. Pelo mundo interno com suas dimensões pessoais e coletivas, e pelo mundo externo, que envolve toda a humanidade, os objetos, os sistemas (econômico, social, etc…), os animais e a natureza.

Em momentos planetários com muita tribulação como o qual estamos vivendo, pessoas mais sensíveis sofrem muito com esta vibração desarmônica, afetando-as em sua totalidade, inclusive no seu processo de ensino-aprendizagem.

Alunos que moram num país com instabilidade política, com perseguições ideológicas, étnicas e/ou religiosas, são afetados nefastamente da mesma maneira.

Pessoas que moram numa comunidade com níveis indesejáveis de vulnerabilidade social, mesmo que freqüentem uma escola de excelente nível pedagógico, podem ter graves dificuldades de aprendizagem.

Pessoas possuem uma relação mais intima e com alto vínculo afetivo com sua família. As condições desta relação afetam de forma mais direta e com grande impacto no indivíduo como um todo. Se esta relação estiver com problemas que precisam ser resolvidos, ou seja, como numa família comum, estes conflitos familiares serão expressos, também, no processo ensino-aprendizado, como dificuldades.

Enfim, as condições do planeta afetam todos os seus habitantes. Os habitantes de um país são afetados pela condição planetária e mais diretamente com as condições de seu país. Os habitantes de uma comunidade são afetados pela condição do planeta + de seu país + de sua comunidade. O membro de uma família é afetado pelas condições planetárias + de seu país + de sua comunidade + de sua família.

O indivíduo é afetado também e mais intimamente pelas suas próprias condições enquanto indivíduo, enquanto um Ser Humano comparável a um micro sistema cósmico inserido no Cosmo. Uma totalidade que pertence a Totalidade. Estamos interagindo com o universo ou com o mundo, tanto “por dentro” como “por fora”, tanto com o mundo interno quanto com o mundo externo.

Agora me diga, com essa visão de contexto, sistêmica, holística, complexa ou ecológica, lhe parece sensato afirmar que o aluno não consegue aprender a escrever porque não foi desenvolvida a sua “lateralidade”?

Certamente é possível identificar alguns aspectos mais pontuais, que ficam mais claros quanto mais concretos forem. Assim, se há alguma coisa expressa no corpo físico, como uma ferida, fica mais fácil a avaliação de que a ferida existe. Já identificar o porquê ele apareceu é outra história.

Dificuldades de aprendizagem envolvem o Ser como um todo. Não dá pra identificar com clareza o porquê ela apareceu, mas podemos ajudar esta pessoa a resolver suas dificuldades na medida em que a ajudamos no seu desenvolvimento integral ou individuação.

Promover a individuação usando o movimento corporal como a principal estratégia de intervenção é uma das importantes estratégias que dispomos e que nos oferecem diferenciais que devem ser explorados em prol de nossos alunos.

lino

 Prof. Lino Azevedo Júnior

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