Não existe “Atividade Psicomotora”

Há muito tempo atrás, Carl Gustav Jung, considerado o maior médico psiquiatra de seu tempo ou até de todos os tempos, fez uma admoestação aos médicos de sua época, em uma de suas palestras exclusivas à médicos, dizendo assim:

O médico não deve jamais perder de vista o seguinte: as doenças são processos normais perturbados, e nunca uma enti per si, dotados de uma personalidade autônoma”.

Para alguns, essa ressalva parece tão óbvia que pode parecer que seria algo digno de ser dito somente na época em que Jung disse, mas na verdade como o óbvio é algo bem subjetivo, então torna-se bem atual para os nossos dias e ponto de apoio para o nosso tema, pois podemos parafrasear Jung da seguinte forma:

“O Psicomotricista não deve jamais perder de vista o seguinte: as atividades psicomotoras não são uma entia per si, dotadas de uma personalidade autônoma”.

Portanto não existe “Atividade Psicomotora” (Enti per si = Ser em Si), o que existe é uma personalidade (uma pessoa) desenvolvendo uma “Atividade psicomotora”.

O que dá vida e tipifica uma atividade como psicomotora, é justamente a pessoa que a realiza. Livros ou vídeos de atividades psicomotoras, são na verdade, registros e imagens de atividades psicomotoras e não atividades psicomotoras em si.

A Atividade em si não pode ser Psicomotora, pois a Atividade em si, não possui “psique” e nem “motora (movimento corporal)”.

Em outras palavras, só vai existir uma Atividade Psicomotora quando existir uma pessoa desenvolvendo tal atividade, pois a “psique-motora” pertence à pessoa e não à Atividade!

A Atividade nunca será uma entia per si (uma entidade por si própria).

Ah… mas isso é obvio, poderia dizer alguém…

Nem tanto, responderia… se fosse óbvio não haveria tanta gente procurando “Atividades Psicomotoras Prontas” para simplesmente reaplicá-las em seus educandos ou assistidos.

O que pode existir é uma “Biblioteca com imagens motoras” ou “Vocabulário motor” que pode inspirar o psicomotricista a prescrever sua intervenção psicomotora sob medida para seu educando, mas nunca algo pronto que só será reaplicado mecanicamente.

Podemos dizer que desta forma, seria uma “Atividade Motora Mecânica” mas não uma “Atividade Psicomotora”.

Uma “Atividade Psicomotora” envolve necessariamente uma pessoa (psique-soma), e no caso da intervenção psicomotora profissional, envolve também o psicomotricista, ou como queira, o Educador-Terapeuta.

Uma Atividade Psicomotora sempre será única, pois será realizada no agora envolvendo uma “psique-soma” única naquele agora, e no caso da intervenção profissional, envolve também a “psique-soma’ do psicomotricista e o SISTEMA formado pelo “PROFESSOR-ALUNO” ou “educador/terapeuta-educando”.

Imaginando a seguinte cena:

“Uma pessoa aborda o psicomotricista e lhe pergunta: Ah… o Sr. é Psicomotricista? Então o Sr. trabalha com Atividades Psicomotoras?

Aconselharia a seguinte resposta:

Sou psicomotricista sim, mas não trabalho com Atividades Psicomotoras, não sou um Professor-Ensinador de Atividades Psicomotoras, mas sou um Professor-Terapeuta que trabalha com Pessoas, com Indivíduos, onde o Movimento Corporal é a nossa principal estratégia de intervenção, mas não a única…”

lino

 Prof. Lino Azevedo Júnior

Ah… deixe o seu comentário abaixo, queremos saber o que você pensa a esse respeito!!!

Veja também!!!:

Qual a diferença entre Psicomotricidade e Atividade psicomotora?

2 Comentários

  1. Maria do Carmo penteado de camargo

    Texto excelente. Esclarece e propõe uma interessante reflexão

  2. Emilene

    Uma reflexão muito pertinente que nos leva a pensar na necessidade de humanizar o contato com os alunos e a enxergá-los de maneira mais holística. Obrigada por compartilhar suas reflexões prof. Lino.

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