Como associar futebol e psicomotricidade?
Neste post vou responder a uma pergunta muito interessante de um internauta: Como relacionar futebol à psicomotricidade?
Se pensarmos em psicomotricidade como sendo uma expressão da individualidade através de seu movimento corporal, por um lado, e como sendo uma estratégia de intervenção por outro, podemos interpretar a relação entre futebol e a psicomotricidade de duas maneiras. Uma pelo viés da Expressão e outra pelo viés da Intervenção.
PSICOMOTRICIDADE: COMO PODEMOS VER O FUTEBOL PELO VIÉS DA EXPRESSÃO
Quando vemos um indivíduo jogando futebol, muitas coisas podem ser observadas, ou em outras palavras, este indivíduo expressa muitas coisas sobre si-mesmo através de seus movimentos numa prática esportiva, no caso o futebol.
Vemos por exemplo, suas habilidades no domínio e condução de bola, nos passes, nos chutes, nos dribles e em todos os fundamentos do jogo, que denotarão uma determinada coordenação.
Esta coordenação sob o prisma da psicomotricidade, revela mais que uma aptidão física ou uma qualidade relativa somente ao corpo, mas uma habilidade de funções psíquicas que permitem coordenar uma série de estímulos vindos do mundo externo com os estímulos que estão sendo ativados no mundo interno devido a vivência do jogo.
A vivência do futebol deve ser olhada pelo psicomotricista, como se fosse um palco de teatro onde os jogadores expressam a dramaticidade de suas almas. Cada um expressa seu tipo psicológico ou temperamento, suas qualidades como: inteligência, criatividade, altruísmo, egoismo, valores…, suas potencialidades, seus fatores positivos que devem ser aprimorados, como também muitos aspectos “negativos” ao desenvolvimento que devem ser reelaborados.
As dores (da alma ou psique, como traumas, por exemplo) dos praticantes aparecem ali reveladas, naquele palco, observadas atentamente pelos olhares mais sensíveis do psicomotricista, nas iniciativas, no comportamento, no relacionamento, nas falas, nos olhares e nas minúcias de como cada praticante avalia, interpreta e reage as suas vivências.
O jogo de futebol oferece uma oportunidade única de expressão, e consequentemente de observação, numa dinâmica de grupo onde podem estar envolvidas atividades físicas e emocionais intensas e concomitantes (depois sugiro ver nesse link “A diferença entre Sentimento e Emoção”), o que favorece expressões espontâneas, autênticas, sem as repressões de uma atitude pensada com cuidado que visem esconder a verdadeira personalidade do indivíduo.
Esta dinâmica de grupo, o jogo de futebol, revela muito ao psicomotricista que está interessado em conhecer seu aluno profundamente, para que possa, melhor auxiliá-lo em seu desenvolvimento.
Concluímos então, para que o futebol seja associado à psicomotricidade no viés da expressão, ele deve ser visto como um meio de observação, ou seja, o foco está no aluno e no desejo de conhecê-lo profundamente e não no futebol em si.
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PSICOMOTRICIDADE: COMO PODEMOS VER O FUTEBOL PELO VIÉS DA INTERVENÇÃO
Para que possamos associar o futebol à Psicomotricidade no viés da intervenção, precisamos, em primeiro lugar, vê-lo como um meio e não como um fim. O psicomotricista não é uma pessoa que ensina futebol, mas uma pessoa que visa o desenvolvimento de seu aluno usando o futebol como meio.
Então, o psicomotricista não visa que seu aluno se torne um jogador de futebol melhor, mas sim, que seu aluno se torne um indivíduo mais desenvolvido.
Então o objetivo da Psicomotricidade Positiva é fomentar o desenvolvimento integral do indivíduo, ou como preferimos dizer tecnicamente, fomentar a sua Individuação.
Até aqui vimos dois importantes diferenciais. O Foco e o Objetivo. Como o foco é o aluno, o futebol então é um meio, somente uma ferramenta ou uma atividade a ser estimulada visando promover o Objetivo, que é o desenvolvimento integral do aluno ou a Individuação.
Vamos dar um exemplo prático. Para o psicomotricista, que está estimulando seu aluno a chutar uma bola de futebol, o mais importante são os avanços que aquele aluno, como indivíduo, possa fazer com essa atividade. Se ele chutar de um jeito que não seja o ideal para o futebol, tudo bem. Devemos orientá-lo para ele chute melhor somente se este aprimoramento (ou seja, “chutar” melhor segundo o movimento técnico do fundamento do futebol) também auxilie o aluno em seu desenvolvimento.
Como não estamos interessados no futebol em si, nas cobranças de que o aluno aprenda futebol, que ele participe de jogos e campeonatos e jogue bem, não há problema algum se ele não chutar da maneira ideal. Não temos pressa, e não estamos necessariamente interessados, no aprendizado do futebol, pois estamos focados no desenvolvimento do aluno de forma integral e na melhor maneira que podemos conduzir a atividade psicomotora que temos como referência, no caso, o futebol.
Pois bem, agora mencionamos outro importante diferencial, afim de associar a psicomotricidade ao futebol: O Método. O Método se refere à um “constructo teórico” específico do Método, a uma organização operacional e ao “como conduzimos as aulas ou sessões de psicomotricidade”.
O Método assume papel importantíssimo neste processo, pois ele trata não só da organização da prática, mas ao relacionamento professor-aluno. Se o Método não favorecer o desenvolvimento do aluno, nada do resto importará ou fará diferença.
Uma pessoa pode ser estudiosa de psicomotricidade e de futebol com grande conhecimento e autoridade acadêmica, mas se não souber como aplicar esse conhecimento à prática, se não souber conduzir as aulas ou sessões com sensibilidade, qualidade e eficácia, nada adiantará.
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CONCLUSÃO
Assim, há uma diferença entre ensinar futebol e promover o desenvolvimento integral do indivíduo através do futebol. No segundo caso podemos dizer que se trata de psicomotricidade, pois o foco está no desenvolvimento do aluno e não na modalidade esportiva.
Para associar futebol e psicomotricidade então, deve-se alinhar a intervenção (meio=futebol), ao foco (no aluno), ao objetivo (desenvolvimento integral do aluno) e ao Método (a maneira como você conduz a aula).